Num dia destes ouvi uma expressão que me deixou pensativa e apreensiva. "Eu jogar poker? Que vergonha viver de jogo!! Nunca."
Este assunto já está muito falado e comentado. Mas não deixa de ser um tema actual.
Afinal o que verdadeiramente pensam os amigos e os familiares de um jogador de poker?
Será que as opiniões se alteram consoante os ganhos/perdas? O cenário tomará outras formas se o jogador for profissional? Fará sentido explicar pormenorizadamente? Argumentar?
Quais as pessoas que aceitam melhor? Quem mais confia no jogador? Quem mais gosta de jogo em geral? Quem não gosta de jogo e não percebe nada disso?
Quem diz abertamente que joga poker a todas as pessoas que, de alguma forma, fazem parte da sua vida? Quer sejam relações profissionais, de amizade ou familiares.
Poderemos pensar que a culpa também passa pelos jogadores? Que assumem alguma vergonha, alguma retracção, alguma contenção em revelar que jogam poker?
O que fazer para alterar algo na cabeça das pessoas?
É tão simples dizer: Um dos meus hobbies é fotografia. E pronto...Não há nada para explicar. Não existem condenações. Não existem pressupostos dúbios. Quando acontecerá o mesmo ao dizermos que o nosso hobbie ou profissão é jogar poker?
Como em tudo há casos e casos, realidades e realidades. Mas, parece-me que muitos passam ou passaram por situações de algum constrangimento ou contenção. Um dos principais entraves passa pelo poker ser jogado em casinos. Casinos levam a pensar em jogos de azar e sorte. Mas o poker é um jogo de estratégia!!
Um jogo de poker está mais associado às bases implícitas de uma partida de de xadrez do que de uma sessão a jogar videopoker.
A componente sorte no xadrez existe.Pelo que sei está relacionada com o sorteio inicial. Quem começa com as peças brancas tem direito a ser o primeiro a jogar. De seguida será estratégia,táctica e claro a perícia e conhecimentos do jogador. Ou seja a sorte poderá ser reduzida a insignificante se for superada pela estratégia, táctica e perícia.
A componente sorte numa sessão de videopoker é constante. Mesmo que a melhor opção de "prender" as cartas seja tomada, será precisa sorte para saírem as restantes que interessam para completar a mão. A componente sorte predomina, sem deixar espaço de manobra a qualquer estratégia possível.
Outro problema relacionado com o poker é ser um jogo a dinheiro. Mas quantos torneios de futebol, ténis, etc envolvem dinheiro ou prémios de elevado valor? Julgo que o problema dinheiro chega perto, muito perto de ser um mito no entrave à aprovação deste nosso desporto.
Quando assistimos a séries norte-americanas apercebemo-nos que uma enorme percentagem da população tem os seus jogos periódicos entre família ou amigos. Algo envolvendo convívio saudável! Seria tão bom ver algo idêntico, no nosso país, dentro de meia dúzia de anos.
Jogar poker envolve, entre outras coisas, estímulo à inteligência, ao raciocínio, melhoria da percepção do próximo, auto-conhecimento, auto-controlo, e melhoria de concentração. O poker é uma modalidade que tem subjacente algumas ciências. Psicologia, sociologia, matemática, são algumas das quais tenho consciência que estão presentes. Imagino que existam componentes de outras.
O que pode ter de tão nocivo algo que nos permite crescer tanto como ser humano?
Este "olhar de lado" tão habitual por quem não conhece tem de ter alguma origem. As razões devem prender-se a história de o avó de não sei quem que perdeu o apartamento num jogo de poker, o outro que perdeu o carro, e ainda o outro que chegou a casa sem o salário porque apostou tudo num jogo de poker.
Quem só conhece esta realidade terá certamente na cabeça a espontânea negação ao fenómeno poker. Mas como em tudo há vertentes diferentes. Numa era de informação rápida e fácil, quem quer começar a jogar poker para evoluir pode informar-se, estudar, analisar e praticar da melhor forma esta modalidade. Saber como começar, gestão de banca, etc. E como explicar isto a um leigo? E a alguém com o pé atrás?
Onde está a solução?
Bem...depois de tantas palavras julgo que me encontro no mesmo ponto.
Parece que estamos numa decisão numa mão de poker.
Em que temos de analisar
. o oponente - em que a abordagem terá de ser diferente consoante a pessoa
. o tipo de jogo - contextualizar, perceber se estamos num freeroll em que não temos muito a perder e tudo a ganhar, ou se estamos numa mão decisiva num torneio, ou seja, que queremos no final ganhar, que essa pessoa perceba e entenda e que acima de tudo esteja a nosso lado, se estamos na fase de rebuys, em que sabemos que podemos ir dando informação à pessoa aos poucos, para ir interiorizando.
. definir o que fazer em cada street - saber bem o que responder depois de ouvir os argumentos do costume ou não.
. analisar a restante mesa que ainda poderá ter acção na mão - factores externos são muito importantes, neste caso as relações próximas do nosso "adversário" podem levar por agua abaixo todo o processo.
UFA!! Uma mão difícil de jogar em alguns spots da nossa vida. Isto porque depreendo que o mundo que nos rodeia nos interessa. E que vivendo em comunidade, a aprovação, respeito e apoio dos que nos são próximos, é um ponto base da nossa estabilidade emocional e social.
E para ajudar à festa estamos num ciclo vicioso...Esta estabilidade faz de nós melhores jogadores!!;)
Espero que o meu texto não esteja muito confuso, nem muito enfadonho. Está repleto de interrogações difíceis de encontrar resposta simples e fácil.
Deixando as meditações e reflexóes, vou falar do dia a dia:
Amanhã estarei de partida para o Estoril!! Betfair Poker Open Estoril aqui vou eu!;) Desta vez não vou jogar. Mas vou participar no evento de forma activa, noutra vertente.
**; Até breve ;**
Edit: UIIIIIIIIII...O texto ficou muito maior do que pensava!!! Obrigada a quem o leu até aqui...sem saltar nem uma palavra...:P